Compor sempre foi uma das paixões de Felipe Eiras, co-founder da Action Labs. Antes da pandemia de covid-19, o também designer começou a gravar algumas composições que viriam a se tornar o EP Sonhador. “São quatro músicas que falam muito sobre a forma como enxergo, percebo e vivo essa vida. O tempo passa e a gente vai deixando pra trás alguns sonhos, ideias e paixões”, comenta ele.
Escute o álbum na íntegra ao final do post. 😉
Felipe toca piano clássico desde os oito anos de idade. Aos quinze, descobriu o violão e treinava sozinho com revistas de acordes. “Eu já tinha boa parte da teoria de música pelas aulas de piano clássico, consegui fazer uma transposição super simples para o violão”, comenta. Nessa época, ele começou a se interessar também por harmonia, chegando a fazer um curso no Conservatório de Música Popular Brasileira.
Logo, Felipe entrou para uma banda que tocava em eventos de sua igreja. “Tocamos em Belo Horizonte, (tocamos) na praia e até abrimos um show para uma banda americana cristã chamada Bride aqui no Círculo Militar. Eu tinha só 16 anos!”, relembra. Essa experiência instigou ainda mais o seu interesse pela música, mas o que fez Felipe se apaixonar foi a liberdade de poder expressar os seus sentimentos por meio de composições próprias. “Descobri na poesia e na música uma forma de botar para fora os (meus) sentimentos e emoções”, revela.
De acordo com Felipe, compor música tem processo criativo bem particular. “Às vezes vem uma melodia na cabeça, um refrão (ou) uma ideia e começo a trabalhar naquilo. Às vezes, a ideia fica guardada por um bom tempo. Às vezes, as letras saem de uma vez só.” Para deixar tudo mais organizado, Felipe mantém um caderninho com ideias, letras e partes de refrão. Quando entrou em uma nova banda, que tocava canções originais, ele pôde exercitar o seu lado compositor.
A maioria das composições de Sonhador foram escritas há mais de 15 anos.Despertar foi uma válvula de escape para uma perda importante para o compositor: a morte de sua avó.
Faz de mim um sonhador
Pois se assim não for
Um dia irei entristecer
Quando olhar atrás e ver
Que tudo já passou
E afinal o que restou
Senão o desejo
De voltar para tudo aquilo que acabou
“(A canção fala) de olhar para o futuro e depois para o passado e dizer: ’Não quero perder meu tempo nesta Terra. Não quero viver uma vida que não seja digna de viver aqui’. E pra isso eu preciso ser um sonhador. Preciso que esse desejo seja constante em meu coração”.
Há um tema recorrente em todas as suas canções: a existência de algo maior. Felipe é cristão, e sua espiritualidade é expressada por meio de sua obra. Como neste trecho de Despertar:
Eu quero me libertar
Da ilusão de acreditar
Que sou capaz de ser feliz
Com minhas próprias mãos
Não posso mais lutar
Desisto de enganar
Os sonhos leves e constantes
Deste triste coração
“É quando digo ‘não adianta, pela minha força eu não consigo’. Preciso de uma força maior para orientar o meu coração e guiar a minha vida para que (a vida) não seja em vão”.
Brilho, canção na qual Felipe também canta e uma de suas favoritas, “é uma conversa do meu Pai Eterno comigo”. Já a música Lá vem o sonhador, interpretada pelo seu amigo Samuel Barbosa, fala do personagem bíblico José, que interpretava sonhos.
No entanto, Felipe foi crescendo e deixando a música de lado. Casou cedo, teve outros focos, seu filho nasceu, mas nunca deixou de compor. Esta era a maneira que ele conseguia encarar os conflitos e “loucuras” da vida, exemplificado neste trecho da música Pelas ruas:
Neste aflito fim do dia
Um conflito de ideias se atritam pelas ruas
Da cidade em meio às trevas
Pouco antes da pandemia, Felipe foi incentivado por amigos a tirar as composições da gaveta e gravá-las em estúdio. O lockdown infelizmente atrapalhou as gravações, e o projeto levou dois anos para ser concluído. Mas isso não diminuiu a vontade de Felipe de continuar fazendo música.
“Eu quero continuar. Eu devo ter mais de 20, 30 composições. Escolhi quatro, (mas) foi difícil. Escolhi todas que tivessem a mesma ideia, que falassem de sonhos, para encaixar (no tema) do álbum. É uma terapia para mim compor, e é muito gostoso compartilhar as músicas com outras pessoas.”