A jovem designer transformou em hobby paixão que começou na infância e hoje aperfeiçoa técnicas de bordado que aprendeu com a família.
De quantas formas diferentes a arte pode ser expressada? Definitivamente, inúmeras. E, muito além de bordar um vestido, costurar uma camisa ou pregar um botão, o corte e o bordado são habilidades que não se limitam apenas ao mundo da alta costura. Muito pelo contrário: em um país multicultural como o Brasil, é possível encontrar em várias famílias tradições de costura em diferentes formatos que sobreviveram com o passar do tempo. É o caso da Rafaela Lech, a designer de 27 anos aficionada por esse mundo têxtil.
Descendente de poloneses, povo que chegou ao país trazendo o costume de confeccionar suas próprias roupas, ela aprendeu com a família a arte do bordado. Sua avó criava bolsas, bordava enxovais e até hoje mantém o hábito de costurar. O ofício passou de geração para geração, indo de trabalhos mais rústicos, que usavam sacos de estopa, a atividades mais meticulosas, usando métodos sofisticados. A paixão começou justamente quando era criança ao observar sua mãe costurando com ponto-cruz, uma técnica fina e delicada. “Minha mãe sentava à noite depois do trabalho para costurar enquanto assistia à novela e eu a imitava. Era algo que unia a família, um momento único entre mãe e filha do qual eu adorava fazer parte. Dessa forma, aos oito anos, consegui fazer o meu primeiro bordado.” – conta Rafaela.
Durante a adolescência ela parou de bordar para se dedicar aos estudos, mas sempre mantendo esse talento guardado no coração. Já formada no curso de design gráfico, há cinco anos, enquanto morava em Dublin, na Irlanda, ela decidiu voltar a bordar. Mas essa decisão surgiu a partir do conselho de sua terapeuta para ajudar com suas crises de ansiedade: a ideia era que Rafa ficasse perto das coisas que ela mais amava. Assim, veio à tona a reconexão com seu passado, com seus aprendizados de infância que, agora adulta, poderia aperfeiçoar. Muito ligada em moda, ela recomeçou os trabalhos usando a antiga técnica de ponto-cruz e observando o que estava em alta nos sites de tendências para dar vazão às suas criações.
Rafa também fez vários cursos na área que ensinavam outros pontos com o intuito de dar textura aos seus bordados. Com isso, ela conheceu outras técnicas e adotou um estilo completamente novo – o punch needle, o que mais usa hoje em dia. Essa técnica de bordado em relevo permite usar várias espessuras de fios e, para cada fio, é usado um tipo específico de agulha. Diferente do ponto-cruz, o punch needle cria obras mais rústicas e menos delicadas, porém executando mais rapidamente, o que permite fazer coisas maiores em menos tempo – caindo como uma luva para diminuir sua ansiedade. Precisando se concentrar cada vez mais, ela passava horas bordando e aperfeiçoando seus trabalhos.
De volta ao Brasil, Rafaela fez mais cursos online, comprou agulhas especiais e começou a trabalhar com lã e barbante. Todo o seu processo de criação é bem dinâmico, desde botar a ideia no papel, passar para a tela e, como é feito com as pinturas, esticar o tecido o máximo possível para prender com grampeador. No seu portfólio estão quadros, almofadas, enfeites e porta-objetos em interpretações que representam desde a natureza a cenas abstratas. Fora o punch needle, Rafa também aprendeu macramê, que é a técnica de dar nó em fios para bordado. Mas engana-se quem pensa que ela tem a intenção de vender suas obras. Rafa vê seu hobby como uma válvula de escape, algo que dá prazer e proporciona uma conexão com sua própria criatividade. Abrir um ateliê? Não, obrigado. Essa é uma ideia que está muito longe de se tornar realidade e que ela não pensa em colocar em prática tão cedo.
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